segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pessoas & números

"Eu aprenderá, pois, uma segunda coisa, importantíssima: o seu planeta era poucome maior que uma casa !
Não era surpresa para mim. Sabia que além dos grandes planetas - Terra, Júpiter, Marte ou Vênus, aos quais se deram nomes - há centenas e centenas de outros, por vezes tão pequeno que mal se vêem no telescópio.
Quando o atrônomo descobre um deles, dá-lhe por nome um número. Chama-o, por exemplo: "ateróide 3251".
Tenho sérias razões para supor que o planeta de onde vinha o principe era o ateróide B612. Esse ateróide só foi visto uma vez ao telescópio, em 1909, por um astrônomo turco.
Ele fizera na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astrônomia. Mas ninguém lhe dera crédito, por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim.
Felizmente para a reputação do asteróide B612 a lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números. Quando agente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. não perguntam nunca: Qual é o som da sua vóz? Quais os brinquedos que prefere ? Será que ele colecionada borboletas ? . Mas perguntam: Qual a sua idade ? Quantos irmãos ele tem ? Quanto pesa ? Quanto ganha seu pai ?. Somente então é que elas julgam conhece-lô. Se dissermos ás pessoas grandes: Vi uma bela casa de tijolos cor de rosa, gêranios na janela, pombas no telhado. Elas não conseguem, de modo algum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: Vi uma casa de seiscentos contos. Então elas exclamam: Que beleza !
Assim, se a gente lhe disser: "A prova de que o principisinho existia é que ele era encantador, que ele ria, e que ele queria um carneiro. Quando alguém quer um carneiro, é porque existem" elas darão de ombros nos chamarão de criança ! Mas se dissermos: "O planeta de onde ele vinha era o asteróide B612" ficarão inteiramente convenvidas, e não amolarão com perguntas. Elas são assim mesmo. É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes.
Mas nós, nós somos que compreendemos a vida, nós não ligamos aos números ! Gostaria de ter começado esta história á moda dos contos de fada. Teria gostado de dizer:
Era uma vez um pequeno principe que habitava um planeta pouco maior que ele, ele tinha necessidade de um amigo... Para aqueles que compreendem a vida, isto pareceria sem dúvida muito mais verdadeiro.
Porque eu não gosto que leiam meu livro levianamente. Dá-me tanta tristeza narrar essas lembranças ! Faz já seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tentar descrevê-lo aqui, é justamente porque não quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigo. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números. Foi por causa disso que comprei uma caixinha de tintas e alguns lápis também. É dur pôr-se a desenhar na minha idade, quando nunca se fez outra tentativa além das jibóias fechadas e abertas dos longínquos seis anos ! Experimentarei, é claro, fazer os retratos mais parecidos que puder. Mas não tenho muita esperança de conseguir. Um desenho parece passável; outro, já é inteiramente diverso. Engano-me também no tamanho. Ora o principezinho está muito grande, ora pequeno demais. Hesito também quanto á cor e o traje. Vou arriscar então, aqui e ali. Enganar-me-ei provalvelmente em detalhes dos mais importantes. Mas é preciso desculpar, Meu amigo nunca dava explicações. julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver o carneiro através da caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci."
Pequeno Príncipe - Antoine de Saint - Exupéry- Capítulo IV

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